Levantamo-nos cedíssimo e executamos o nosso ritual para sair de İzmir, apanhar o dolmuş (minibus) para a Otogar e daí o autocarro para Éfeso. Ao chegarmos a Selçuk, fomos surpreendidos por a última paragem ser aí e não onde nós queríamos ir. Resignados, decidimos visitar primeiro esta cidade e depois então apanhar um dolmuş até Éfeso.

Voltámos então para a estação e entrámos num dolmuş para Éfeso, que nos deixou a 1 quilómetro do nosso destino. Aí fomos abordados por um taxista que nos queria vender uma viagem a Meryam Ana e depois à porta superior de Éfeso. Não existe nenhum dolmuş para Meryam Ana, logo se queríamos visitar a casa de Maria, a única solução era ir de táxi. Para início de conversa ele propôs 50 liras, o que a dividir por dois era muito, já que temos que pagar 11 liras para a entrada em Meryam Ana e 20 em Éfeso. Assim, ficaria em 56 liras para cada um, mas depois de explicarmos que éramos yabanci öğrenci (estudantes estrangeiros), ele desceu o preço até 35 liras, logo 48,5 cada.

Mesmo assim achámos muito caro e despedimo-nos, mas, ainda não tínhamos andado 10 metros, quando nos aparece um casal de turistas irlandeses a perguntar se íamos para Éfeso. Respondemos que sim e perguntamos se eles já tinham ido a Meryam Ana, ao que eles responderam que não, porque lhes tinham pedido €60 pela viagem (Oha Çüş!), ora, se tomarmos para taxa de câmbio 1,75, simplificadamente, temos um preço de 105 liras, mais do dobro do que nos pediram. Entretanto, aparece-nos novamente o taxista e propõe-nos 45 liras para os quatro, ao que nós respondemos 40 e temos negócio. Ele aceitou, e assim conseguimos ver tudo por 41 liras, menos 15 do que o inicialmente proposto. O meu Pai deu de certeza uma mãozinha, porque senão seria muito difícil isto acontecer, eu te dou graças, Abba.

A viagem foi bastante longa, a casa onde Maria viveu é realmente no topo da montanha, praticamente inacessível senão através de automóveis. Seria interessante que houvesse uma peregrinação desde Éfeso até Meryam Ana, visto que o caminho é muito difícil, e prepararia o peregrino para o que iria encontrar. Mas, com pouco tempo, o táxi foi o melhor que se pôde arranjar. Ao chegar a Meryam Ana, pode-se sentir de imediato que estamos num lugar diferente e especial, o silêncio que todos cumprem, a beleza do próprio sítio (acabei mesmo agora de ler uma catequese do Kiko acerca da beleza a propósito do cântico Formosa és, Amiga Minha) e a calma são prova disto.

Entramos primeiro para um pátio, que conduz a uma escadaria para a casa propriamente dita. No topo da pequena escadaria existe uma pequena estátua à virgem, à qual é tradição tocar no pé. Dentro da casa não é permitido tirar fotos, mas posso dizer que a casa é muito rústica e simples, com apenas um vestíbulo, a sala principal e mais uma pequena divisão. Perto da casa existe uma nascente de água, onde os peregrinos podem refrescar-se. É importante ressaltar que a virgem Maria não é importante apenas para os cristãos, mas também para os muçulmanos, existindo várias referências a ela no Alcorão.

Após meia-hora aqui, prosseguimos para Éfeso, onde nos separámos dos irlandeses, com a promessa de lhes enviarmos as fotografias tiradas. À entrada, tivemos que pagar mais 20 liras, como é costume em todos os sítios turísticos. Entrámos, e como não tínhamos guia para nos explicar a história do local, ficámos a ouvir a explicação do guia de um grupo de turistas. Nós estávamos à sombra e eles ao sol, portanto, quando se fartaram de estar ao sol e decidiram vir para a sombra, o guia veio falar comigo em turco, o que é um lugar comum, já que todos os que me conhecem pela primeira vez dizem que eu pareço turco (de Ankara ou Konya).

Depois de eu dizer que não éramos turcos, ele apenas perguntou qual era o nosso país e continuou a explicação. Quando acabou, fomos falar-lhe e ele foi muito simpático, e disse que podíamos seguir o seu grupo. A parte superior de Éfeso, que é a parte aristocrática, com os edifícios públicos mais importantes, como o parlamento, tem uma vista muito bonita da montanha à sua esquerda. O edifício que parece um teatro, é na realidade um parlamento, onde se reuniam os representantes dos cidadãos da cidade para a governar em democracia.

Em frente a este edifício existe uma rua bastante larga que atravessa toda a cidade, desde a parte alta até ao porto. Ao começarmos a descer, reparamos no templo a Atena-Nike à direita, e também uma pedra com o símbolo da farmácia (cobra enrolada num bastão), que, reza a lenda, tem a sua origem no tempo da Grécia Antiga.

Esta lenda conta que, os médicos gregos, quando não tinham sucesso a curar os seus doentes, ao fim de poucos dias, atiravam-nos de um penhasco. Ora, um doente pediu para ser abandonado na floresta, em vez de atirado, dizendo que as feras selvagens o matariam. Os médicos consentiram e, uma vez na floresta, encontrou um pouco de leite e viu uma cobra a deixar o seu veneno no leite. Convencido que, com tal bebida, teria uma morte rápida, apressou-se a beber. Porém, não só não piorou, como começou a melhorar, e um dia retornou aos médicos que o tinham tratado. Estes ficaram admirados com as melhoras deste homem, e foi assim que foi descoberto que o veneno das cobras pode ser utilizado para fabricar remédios, e assim surgiu o símbolo da farmácia.

De seguida passámos à Necrópole, que tem alguns túmulos grandiosos da aristocracia da cidade. Continuamos, sempre a descer, para a porta de Herakles, que possui a lenda de que quem tocar com as duas mãos em ambos os pilares obterá a força dele.

A partir desta porta, pode-se ver a rua principal, delimitada por colunas pertencentes a antigos templos, até à fachada da biblioteca, com a planície e a montanha em pano de fundo.

Continuando, chegamos ao pé do templo de Apolo, onde se pode ver uma escultura de um homem com o pé sobre o mundo.
Um pouco mais em baixo, podemos visitar os banhos, que são bastante complexos, com bastantes divisões. Um pouco mais à frente, vemos o templo de um imperador romano, que está bastante decorado, com cenas de guerra, uma cabeça de medusa e colunas da ordem coríntia.

Outro edifício interessante é o da Latrina, que é uma casa de banho pública, com canalizações e água corrente.

Mas, sem dúvida, o edifício mais imponente é o da biblioteca de Celso, que tem a fachada completamente restorada. Possui colunas da ordem coríntia, frisos escritos e estátuas em nichos na fachada, para além disto, o edifício é bastante alto, o que acresce à sua imponência. As colunas dos extremos têm um diâmetro menor do que as do meio, criando a ilusão de uma maior largura.

Daqui, passamos ao ginásio de Vedius, que é bastante grande, mas está quase abandonado e precisa de alguns restauros, por agora serve apenas de passagem da biblioteca até ao teatro.

O teatro é deveras imponente, muito maior do que o de Hierapolis, mas este último está muito melhor preservado do que o primeiro.

Deste teatro, que já sofreu bastantes trabalhos de renovação, parte uma rua até ao antigo porto. Na antiguidade clássica, esta cidade tinha um porto, mas depois de um aluvião ter escorrido pelo rio, a passagem para o mar ficou fechada e esta perdeu a sua importância.

Isto concluiu a minha visita a Éfeso, a seguir voltamos a Selçuk e daí a İzmir.
No domingo à noite fui ver um jogo de futebol de uma equipa local, que não joga no campeonato principal, mas tem muitos adeptos. A equipa chama-se Karşıyaka (KSK) e o jogo foi no estádio municipal, em Alsancak, que serve os três clubes de İzmir (KSK, Göztepe e Altay). O jogo, apesar de não ser entre os rivais KSK e Göztepe, foi considerado de alto risco, já que os adeptos do KSK são mesmo muito fanáticos. Fomos revistados duas vezes, uma ao chegarmos à zona do estádio e outra quando entrámos nele. Não era permitido levar garrafas de água nem moedas de metal. A equipa é fraquinha, e começou cedo a perder 1-0, mas antes de acabar a primeira parte conseguiu empatar, com um golo muito forçado e com muita atrapalhação. Na segunda parte conseguiram marcar mais um golo quase no fim, para alegrar um pouco os adeptos, visto que a exibição foi muito má. O melhor do clube são mesmo os adeptos, que não se sentaram um momento durante o jogo, estando sempre a entoar cantos de apoio à equipa. O que eu aprendi é Kaf Kaf Kaf, Sin Sin Sin, Kaf Sin Kaf Sin Kaf, que os adeptos de uma bancada cantam e os da outra repetem, sucessivamente. O amigo com quem eu fui é bastante fanático também e pagou-nos os bilhetes, a mim e ao brasileiro, e ainda me ofereceu um cachecol da equipa. A empatia entre equipa e adeptos é muito boa, e a equipa, no fim do jogo veio até perto deles agradecer o apoio e cantar com eles.




































